Foi com uma inocência incrível que tudo começou. Com o mapa do continente americano aberto, fiquei lá, fuçando pelas extremidades, o mesmo péssimo hábito que já havia me levado a despender quantidades enormes de tempo e energia para chegar ao Everest, refazer a rota da seda, ao Atacama por 3 vezes, 11 vezes à Patagônia, à África, 3 vezes ao Ártico, entre outras pequenas proezas menos fantásticas. Sempre que possível, para os mais loucos confins do planeta.
Lá em “cima”, no Estado do Alaska, vi uma estrada que segue ao norte cruzar o Círculo Polar Ártico e segue até o mar Ártico onde acaba o continente. Eu ainda não sabia como, mas uma coisa era certa: um dia eu iria trafegar naquela estrada.
Alguns anos se passaram e enfim chegou a hora de parar de sonhar. Eu tinha que realizar essa façanha, tinha que percorrer cada metro de chão que leva até aquela estrada. Provocar isso para mim era subir numa moto sozinho e me aventurar pelas Américas do Sul, Central e do Norte pra ver como as coisas realmente são. E talvez entender porque aquela estrada estava lá. Eu queria conhecer nosso quintal e nossos vizinhos da forma mais honesta e crua possível, sem intermediários: eu queria tirar minhas próprias conclusões.
O equipamento e os planos – O momento era exato, a moto, uma KTM 990 Adventure. Era recém saída de uma caixa parda e sem graça, bem diferente do conteúdo laranja e repleto de potencial para divertir o condutor. Eu tinha o tempo e o dinheiro necessários para a empreitada, graças à empresa em que sou um dos sócios (Alive Eco Hut) e, claro, meus sócios: dois viajantes sedentos que entendem bem minhas necessidades. O primeiro obstáculo estava superado.
O plano que tinha que ser infalível. Logo iniciei o planejamento, os principais tópicos são relacionados a questões de documentação, de mecânica e financeira. O resto é fichinha: hospedagem, alimentação, comunicação, segurança, legislação, orientação, turismo, etc.
Problemas simples, como onde recarregar uma pilha de uma câmera digital, torna-se um desafio, tudo é analisado sempre com a trilogia: necessidade, peso e volume, afinal de contas isso é mais do que restringido numa moto, devo dizer que sobraram duas camisetas e uma cueca. Talvez eu tenha usado demasiadamente as outras camisetas e cuecas antes de trocá-las, definitivamente os banhos não foram o ponto alto da viagem.